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Ser e não retroceder

Jardim Japonês, Beira-Mar, Fortaleza
Jardim Japonês, Beira-Mar, Fortaleza

—Tchau, mãe, estou indo à Beira-Mar me encontrar com meus amigos.


Saí de casa apressado, com o coração batendo forte — cheio de adrenalina, eu nunca fui

bom com mentiras e, se eu ficasse mais um minuto, eu sabia que minha mãe desconfiaria

do meu plano. E não seria nada bom se ela descobrisse o que seu filho estava indo fazer.


Mas tampouco me importei, quando se é jovem, é preciso correr esses riscos.


Já na estação do VLT, fiquei ali olhando aquelas pessoas que iam e vinham: casais que

andavam de mãos dadas, namorados que iam curtir a praia, tudo normal, Só eu sentia

como se estivesse prestes a cometer o maior dos pecados.


Logo que chegou o VLT, embarquei e me sentei ao lado da janela — era a segunda vez que

eu andava em um. Olhei para o lado e a vista era linda, Fortaleza é tão bela nos fins de

tarde. Poucos minutos se passaram e a próxima estação era a do Iate Club, era lá que eu ia

descer. Naquele instante eu fui tomado por um misto de sentimentos, meu coração estava

tão acelerado quanto antes.


Ao pisar na estação, meus olhos tentaram desviar do meu destino, mas era impossível não

vê-lo, e lá estava ele me esperando. Era a primeira vez que nos víamos. Eu não sabia bem

o que fazer, até que ele segurou a minha mão. E, o que para uns poderia ser um ato

transgressor, para mim foi a certeza do que eu queria. Naquele momento, meu coração

desacelerou. Meus sentimentos começaram a se acalmar, e, então, pude soltar um sorriso.


Chegamos ao Jardim Japonês, dali de cima olhei o mar, e o sol já não ardia mais. Foi

quando ele me roubou um beijo, e eu cedi à tentação. Naquela hora não pensei em nada.

Eu só sabia que queria amar. E se amar fosse pecado, então eu iria pecar e amar.


Na volta pra casa, não entendia como poderia voltar para um lar de pessoas tão

conservadoras e limitadas, na verdade não entendia como eles conseguiam ser tão

limitados ao ponto de querer me limitar também. Mas aí me lembrei de uma crônica da

Clarice Lispector que diz: “Porque, descoberta a própria identidade, o ser é e não

retrocede”.


E eu estava certo de quem eu era e de quem eu passei a ser naquela tarde, e

eu sabia que não ia retroceder.

 
 
 

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© 2023 por NeoMarsha

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